Agora sim, começo a acreditar na justiça terrena! Dantes só acreditava na divina!
Em certas comarcas há juizes capturados pelo Poder Local!
Em certas comarcas há juizes capturados pelo Poder Local!
Sei que nalgumas comarcas alguns magistrados portam-se como marqueses!
É preciso que se diga a verdade!
Não sou daqueles que adulam Abril com objectivos de promoção pessoal ou de promoção política.
Antes de Abril soube o que era o arbítrio, a repressão, a violência até. A máquina do poder era diabólica. Quem não fosse totalmente submisso era alvo de suspeição patológica. Sempre brinquei com o poder. A poesia e a sátira foram armas que só me trouxeram prejuizos. Destruí a minha carreira por causa dos escritos. Mas algo dentro de mim sempre me levou a reagir ao arbítrio...
Mas depois de Abril a cena repetiu-se vezes sem conta.
Um dia fui recebido por um delegado do ministério público. Com modos arrogantes perguntou-me o que eu sabia sobre uma certa câmara. Por que é que eu a andava a perseguir. Que motivos pessoais tinha para o fazer.
Olhei para o seu ar arrogante e provocador e disse com os meus botões: «Isto é a Pide outra vez! Este indivíduo está a vestir uma roupagem partidária óbvia».
De facto não me disse nada sobre o conteúdo de eventuais denúncias que estariam ali em causa. Não pude acrescentar nada. Perguntei do que se tratava pois tinha muitas queixas e queria saber a quais se referia. Disse-me que não era obrigado a responder às minhas perguntas. E nada me disse.
Uma funcionária judicial, ao seu lado, ia sorrindo perante as suas ameaças e a sua arrogância.Parecia ostentar aquela carga de impunidade que vestiam os agentes da Pide, cientes de que estando ao lado do poder tinham uma capa protectora para todas as iniquidades. É claro que se estivesse ali com o meu advogado esta cena não ocorreria, pois eu teria testemunhas, assim fui enxovalhado da forma mais repugnante, fascizante até.
Impávido e sereno não respondi às provocações. Sabia que era essa a intenção dos «algozes». Cumprimentei-o e saí.
O dito cujo causou-me náusea!
Chegou a presidir à Polícia Judiciária! Subiu vertigionosamente na carreira!
Nota Final: Nunca comemoro Abril com manifestações de culto político ou de liturgia folclórica. Esta foi uma das imagens mais nojentas que presenciei. Jamais a esquecerei! Abril não pode ser analisado só à luz dos seus aproveitadores...
Para mim Abril é um estado de espírito que se manifesta em todos os mais humildes actos do quotidiano: pegar numa roçadoura e cortar silvas e mato, vestir um fato de treino e dar umas voltas por aí, contemplando a natureza, observando os passarinhos.Escrever um poema, dar um passeio pela floresta e respirar ar puro. Enfim, Abril é um caleidoscópio, um cadinho, uma mundivivência! Longe de mim os «abrilistas» que não passam de ratos de sacristia ou... de biblioteca!...
Quando olho para alguns que engordaram à custa de Abril, recordo com saudade o Dr Orlando Taipa, um dos poucos sociais-democratas autênticos que conheci:
«O poder corrompe, mas o poder absoluto corrompe absolutamente!»
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