Será que o fez com essa intenção? Ou seria a própria PIDE a apôr tal comentário?! Ou foi forçado a fazê-lo após alguma observação do chefe da brigada?! Ver aqui o tal documento...
Não sou advogado de defesa do professor Cavaco, mas cheira-me a cilada. Se era um local de preenchimento facultatico por que o preencheu? Teria intenção de atingir a segunda esposa do seu sogro?!Ou alguém quis aproveitar o contexto?!
Acho que Óscar Mascarenhas talvez tenha cometido um juízo de intenção precipitado. Não sabemos a que título foi feito esse comentário e com que intuitos.Julgá-lo é precipitado e talvez injusto...
Aconteceu comigo uma coisa estranha. Era o primeiro classificado de um curso de pilotos e estava colocado em Luanda, Base Aérea número 9. Os restantes elementos do meu curso (pior classificados) foram colocados no Leste - então Henrique de Carvalho).
Por motivos de foro clinico (problemas hepáticos, úlcera duodenal e taqui-cardia...) fui evacuado para observação e repouso na metrópole. Aproveitei para vender uma moto (de marca Honda) que possuía, a um empregado da messe de oficiais. Pagou-me metade ficando de me pagar o restante quando eu regressasse.
Quando estive em Lisboa depois dos exames normais, em que aparentemente estava tudo OK, fui abordado pelo sargento Condesso, que me convidou para jantar no restaurante Lumiar e me contou uma coisa surpreendente: chegara um segundo relatório clínico, em que era acusado de ser um indivíduo conflituoso e com pendor psicótico, tendo até (segundo esse relatório) entrado em conflito com empregados da messe de oficiais!!!
Fiquei siderado!!! Como era possível aquilo?! O sargento Condesso, pessoa de trato impecável, disse-me mais ou menos isto: é obra de alguém que lhe quer tirar o lugar! Acautele-se...Há muito disto...
Quando fui confrontado com as acusações neguei-as e fiquei surpreendido por me quererem enviar para Moçambique por alegada «inadaptação à Base Aérea Nove!!»
Fiquei indignado! Fiz finca-pé e decidi que ou iria para Luanda e tirar satisfações a quem denegrira a minha imagem daquela forma tão cobarde, ou então não iria para mais lado nenhum!!!
Estive um mês a aguardar uma decisão!!!
Julguei que iria ser recambiado para o Exército ou até ser alvo de punição!
Foi decidido que iria para a OTA. Frequentei ali (com cerca de três dezenas de cadetes) o curso de Técnico de Circulação Aérea e Radar de Tráfego onde viria a obter o primeiro lugar. Fui convidado (pelo então TC Tomás) a ficar ali como instrutor, mas recusei... não simpatizava com ele nem com a sua entourage...
Sofri na pele a minha frontalidade e rebeldia. Não aceitei mudar para outro lugar por alegada violência pois iria pactuar com uma manobra habilidosa que se destinava pura e simplesmente a criar uma vaga para um amigo e desalojar outro...
O empregado da messe nunca mais pagou a metade que me ficou a dever...Alguém o deve ter protegido...
Enfim, no antigo regime havia situações anómalas. Não acredito que o professor Cavaco Silva, se fosse pronunciar sobre uma pessoa sem ser solicitado. Acredito mais que alguém preenchesse por ele tal apontamento...Era assim antigamente...
10 comentários:
Há por aí muita gente que não viveu activamente o período anterior a 74 e fala pelo que ouve e o que ouve é muitas vezes deturpado intencionalmente ou por desconhecimento.
Enquanto estudante eu “conspirava” com os colegas, contra o regime de Salazar.
Quando acabei o curso fui para a tropa como oficial miliciano e casei-me poucos meses depois. O ordenado era pequeno e para ganhar mais algum optei por dar instrução militar à MP ao sábado à tarde, o que quase me duplicava o ordenado.
Se eu quisesse hoje ser PR certamente que teria no meu curriculum mencionado esse facto.
Será que eu sou fascista, ou criminoso por isso ?
O que conta é a competência, a honestidade, o espírito democrático e de justiça social de cada um e nunca o que se fez (por necessidade), antes do 25 de Abril !
.
A referência às segundas núpcias é estranha e desajustada, mas a letra corresponde à do resto do documento. Um comentário desnecessário, mas que não permite tirar conclusões, a não ser que na altura Cavaco estava bem integrado no regime, como alguns milhões mais de portuguesas.
Nos nossos dias também temos quem esteja bem com o poder, mas se a coisa mudar irão jurar que tinham que comportar-se bem por causa das consequências...
Abraço do Zé
Caro Rouxinol:
Não escrevo à toa e não insinuo. A ficha preenchida pela mão de Aníbal António Cavaco Silva está em http://multimedia.iol.pt/backoffice/oratvi/multimedia/doc/id/13362623//9
Não o critiquei por se declarar integrado no regime (se bem que a fórmula de uso fosse «estar integrado na ordem social da Constituição de 1933»).
Critiquei por dizer que não se lembra do episódio o que só pode ser despudorada mentira... ou alzheimer. E referi que, não tendo formalmente de o fazer, escreveu pelo seu punho que não privava com a segunda mulher do sogro, Fulana de Tal. Falou de mais. Não precisava de o ter feito. Como não precisava de apresentar três testemunhas abonatórias quando só lhe exigiam duas. Não comentei o carácter de Cavaco, mas a sua têmpera. Tudo junto, fica explicado porque é que o homem se encolheu perante o presidente checo, safando apenas a própria roupa, deixando o país ser humilhado e defendendo-se que «não tem responsabilidades governativas». Tal como no debate com Fernando Nobre, onde começou por dizer que tudo fez para que fosse aprovado o Orçamento, mas mal o interlocutor lhe disse que tal Orçamento não prestava, Cavaco voltou a esquivar-se: «Ainda não o conheço. Ainda não o assinei!» Ora abóbora!
A Rui da Bica só tenho a dizer: não sou um mártir nem herói da luta contra o regime anterior. Quando a Pide/DGS foi a minha casa, a 10 de Abril de 1970 (tinha eu 20 anos), tive medo (alguém disse que coragem não é não ter medo, mas vencê-lo). Ao fim de um quarto de hora, recobrei a serenidade e já sabia tudo aquilo que, se fosse interrogado, diria e não diria. Só faltava saber se aguentava a dor física. Felizmente, não cheguei a ser interrogado. Tinha sido uma «visita de cortesia»...
Oscar Mascarenhas
Rui da Bica:
A necessidade obriga a certas coisas... compreendo que a carestia de vida e o contexto familiar a isso obrigaram.
Podia ter recusado. Eu perdi muito com a atitude que tomei. Mas sinceramente, na altura, nunca pensei vir a ser tão penalizado como o fui...
Zé Povinho:
Só agora pude ler o documento e continuo a ter reservas. Ele pode ter sido coagido a fazer aquele acto, por «sugestão» do próprio Chefe de Brigada... por motivos que ignoro. A caligrafia parece de facto de Cavaco Silva.
Caro Óscar Mascarenhas:
Só agora fui ver o original do documento seguindo a via por si indicada.
De facto parece ser feito pelo punho do próprio Cavaco Silva. Ignoramos o contexto que deu origem àquilo. Assim, de forma aligeirada, podemos ser tentados a concluír que houve o propósito deliberado de denunciar uma pessoa por quem não morria de amores...
Pode ter sido uma resposta a alguma insinuação ou a alguma «sugestão» para se demarcar por recear que o contacto com essa pessoa pudesse prejudicá-lo (ou «contaminá-lo»...).
Quanto ao episódio da entrevista com o Dr Fernando Nobre, o facto de ter dito que não conhecia o Orçamento (não podendo dizer com rigor se era bom ou mau...)é razoável, pois o que enfatizou é que era importante ter UM ORÇAMENTO! O vazio seria desastroso. E teremos motivos para concordar com ele.
O que não deixo de reconhecer que tem carradas de razão (e já o disse aqui neste blogue, na altura em que escreveu um artigo no JN sobre tal matéria...) foi uma postura pouco vertical aquando da visita à república checa, encolhendo-se, não dando réplica, dizendo apenas que não tinha responsabilidades governativas. De facto não tinha, mas quem se diz garante da estabilidade deve ter um mínimo de solidariedade com quem está no mesmo barco. Deveria ter um gesto de indignação, justa indignação diga-se, perante aquela «admoestação» pouco ética para um anfitrião que se preze.
Cumprimentos.
Meu caro:
Hoje venho
simplesmente
desejar
para si e para os seus
Feliz Natal!
Saudações poéticas
Vieira Calado:
Obrigado e retribuo com gosto.
Podia não gostar da gaja.
A PIDE era responsável pela boa saúde mental dos portugueses, que sabiam ter ali um lugar seguro para chibar os seus inimigos (e até, às vezes, ganhavam dinheiro, lembro-me da altura dos 500 escudos). Só agora se percebeu isto e criaram portais na PGR para continuar esta terapia barata.
Táxi pluvioso.
A «pluviosidade» é a mesma, agora as motivações são outras: corrupção, fraude, esbulho do erário público...
Dantes era o ataque pessoal por se professar determinada forma de pensar ou de sentir.
Não confundamos as duas realidades que são distintas.
Há roubos a mais neste regime... O país ainda vai prá «sucata» mais dia menos dia... o que mais é são «sucateiros»...
Postar um comentário