Liberdade querida e suspirada,
Que o despotismo acérrimo condena;
Liberdade, a meus olhos mais serena
Que o sereno clarão da madrugada!
Atende à minha voz, que geme e brada
Por ver-te, por gozar-te a face amena;
Liberdade gentil desterra a pena
Em que esta alma gentil jaz sepultada.
Vem, oh deusa imortal, vem, maravilha,
Vem, oh consolação da humanidade,
Cujo semblante mais que os astros brilha;
Vem, solta-me o grilhão da adversidade;
Dos céus descende, pois dos céus filha,
Mãe dos prazeres, doce Liberdade!
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Nota: Há tantos anos escrito este soneto, mas nunca perde actualidade. Quando vemos a liberdade de expressão ser coarctada de forma repressiva e despótica por recursos abusivos e fastidiosos a tribunais (nova forma de censura, às vezes necessária, como é óbvio, mas em certos casos, apenas um chicote para castigar e achincalhar na praça pública quem faz oposição), quando assistimos a tratamentos desiguais da parte da justiça de classe que está instalada entre nós, há que recordar Bocage e zurzir nos que usam o poder económico (e político) para se imporem.
A justiça de classe é a vergasta mesquinha usada pelo ricaço para ofender o menos afortunado em termos económicos. A imprensa, a TV (veja-se o vergonhoso caso José Rodrigues dos Santos) e a rádio, estão ao serviço do poder (económico e político) dominante.
A maior parte dos jornais locais estão enfeudados. Poucos são isentos ou independentes. A lei da rolha impera. A genuflexão ao poder imperante é notória.
Bocage, o intemporal bardo sadino, continua actual, está sempre na moda.
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