«Vila do Conde espraiada...»
Tal como David Mourão Ferreira, tão olvidado hoje em dia, mas sempre presente
nos que admiram a sua poesia, também Régio nasceu à beira-rio. Será este o sortilégio dos verdadeiros poetas? Quem sabe?... em Vila do Conde há tantos e de tanta qualidade, dir-se-ia um viveiro...
Natal à beira-rio...
É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava no cais, à noite, iluminado.
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra,
Vem tu, Poesia, vem agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?
David Mourão Ferreira... Obra Poética (1948-1988)
Editorial Presença
Nenhum comentário:
Postar um comentário