sexta-feira, dezembro 14, 2007

Tratado de Lisboa: Luz de realismo ao fundo do túnel da demagogia...







Os "amanhãs que cantam... " de novo a servirem de panaceias redentoras

de mentes obnubiladas pela demagogia e euforizadas artificialmente...













O Tratado de Lisboa, a tal magna carta que se pretende seja um sucedâneo de constituição, poderá ser um marco positivo ou negativo no relacionamento e na coordenação geopolítica na esfera europeia.

Um conglomerado de países, uma miscelânea de culturas, um concerto de nações mobilizadas para um caminhar colectivo na ânsia de vislumbrarem um futuro melhor para todos.

Será que as metas a almejar vão de encontro às expectativas criadas? Será que o futuro, longe do sonho doirado que foi prometido em discursos inflamados será um pesadelo para a grande maioria das populações?

Sem diabolizar nem sacralizar a Europa, há que fazer um apelo ao realismo e ao bom senso, e abordar com serenidade e sem preconceitos de índole ideológica a questão de fundo.

Vemos um desemprego, ainda que estancado - presume-se- , a ensombrar os horizontes de alguns segmentos da sociedade; observamos uma válvula de escape que tem sido providencial neste contexto de anemia geral - a emigração -, cada vez mais premente no quotidiano de várias famílias causticadas pela taxa de juro asfixiante; contemplamos com angústia a crise nas pescas, nos têxteis, na agricultura; ficamos preocupados com certo economicismo que subjaz à praxis governativa, gerando naturais descontentamentos, bem palpáveis nas áreas da educação, da saúde, da justiça; será para agravar ainda mais as já de si periclitantes condições de vida da maioria dos portugueses?

A interrogação é - deveria ser - o sentimento mais realista no momento presente.Não será ocasião para se repensar o modelo desenvolvimentista ora prosseguido, com os desencantadores resultados à vista? Há que reanalisar a questão de fundo, o paradigma sociopolítico até aqui predominante, há que corrigir as medidas subjacentes ao mau desempenho económico. Ou melhor, há que redesenhar o modelo para não penalizar ainda mais os mesmos, fazendo recaír sacrifícios sobre quem tem auferido chorudos proveitos com o actual sistema. Há quem aplauda com entusiasmo o actual status quo, pois tem retirado inegáveis proveitos com ele.

A banca, as grandes superfícies comerciais, telecomunicações, dentre outros, têm sorvido proveitos muito para além do expectável por outros sectores. Há até quem se interrogue se, em vez de estarem ao serviço da economia, no seu conceito mais elevado e socialmente desejável, se têm servido dessa mesma economia para a sugarem, pauperizando e levando à falência pequenos e médios empresários, lançando no desemprego e na miséria social largas franjas da população?

Ou seja: o bem de uns - uma minoria - não será a génese do mal de outros - grande maioria da população- perpetuando uma neofascização de um capitalismo catapultado pela mola neoliberal?

O enricamento brutal de uma pequena elite, que domina a superestrutura jurídicopolítica - vulgo sistema - é feito à custa da pauperização progressiva da maioria da população.

A corrupção vê-se e entra pelos olhos dentro. Bem prega Frei Tomás , sobretudo nas campanhas eleitorais e nos comícios eleiçoeiros a abarrotar de autómatos alienados pela euforia artificialmente criada, mas depois nada faz no sentido de corrigir os males denunciados. Todos criticam a corrupção no período ante-eleitoral. Depois, quem se senta na cadeira do poder - e seja quem for, há que denunciar o pecado - , põe todos os obstáculos para obstruír a marcha inexorável da corruptofilia que impera. Cavaco Silva bem fala - talvez por necessidade estratégica de calar alguns mais impacientes -mas o destinatário dos seus discursos nada faz nesse sentido - veja-se o atestado de subalternidade passado a Cravinho quando quis pôr o dedo nas feridas...

Será que a cassete vai continuar? A verberação da corrupção aquando na oposição e o nada fazer quando no poder? O prometer a regeneração quando em campanha e o meter na gaveta - debaixo do tapete? - quando no exercício do poder? Tudo indica que sim. Até que surja alguém, com vergonha na cara e carácter na alma, para corrigir os desmandos e a degenerescência reinante.


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