quarta-feira, fevereiro 09, 2011

O discurso do líder local. Antevisão (ficcionada, como é óbvio...)

«Bico calado cachopa, aqui quem manda sou eu! Continuas a reclamar e ainda te ponho em tribunal!!!»
A capacidade analítica introspetiva do Dr Macedo Vieira é de todos reconhecida. É um Homem simples mas complexo na sua multivalência cognitiva.
O seu discurso reflete exuberantemente essa superioridade moral e cívica que o envolve como um manto diáfano...uma luva, dirão alguns.
Eis a minha antevisão do seu discurso:
Amigos:
É uma honra para mim estar aqui entre vós para partilhar a vossa sensibilidade, o vosso sentido estético, a vossa magistratura de influência sobre a sociedade. Gosto de ler, sobretudo sátiras, em que, de forma irónica, os escritores procuram sanear instituições, iluminar mentes cinzentas ou obnubiladas por tiques ditatoriais. Jorge Amado foi um mestre. Ainda recordo aquele Odorico Paraguaçú com as suas excentricidades e as suas raivas ridículas e cómicas.
Eu aprendi muito com os escritores. Sou tolerante, tenho poder de encaixe, aceito as críticas sem azedume. Seria incapaz de pôr um adversário em tribunal.
Qualquer indivíduo que me conheça bem sabe que tenho superioridade moral mas nunca a exibo. Sou intelectualmente superior, mas não seria capaz de humilhar um adversário menos dotado. A literatura está carregada de paradigmas tirânicos que nos fazem sorrir. Por isso respeito os adversários. Por isso convido sempre para lugares de honra, nas inaugurações, nos certames, alguns adversários. A tolerância é minha irmã gémea.
Quanto à justiça, aqui bem representada por um ilustre juriscônsulto, sei que tem dado azo a intervenções geniais ao nível da literatura e do cinema. Processos kafkianos são coisas que abomino, intrínseca e genuinamente falando. Usar o poder para achincalhar quem o não tem é desprezível, é ordinário, é próprio de crápulas. Soljenitsine, o grande escritor soviético aureolado com o Nobel, é um dos autores preferidos por mim. O seu arquipélago de Gulag é um paradigma. O arbítrio, a pesporrência, a má fé, florescem nas mentes dos ditadores como cogumelos em manhã chuvosa.
Mas eu aprendi muito com os escritores. Eu sorrio aos dislates estultos de alguns quando me atacam verrinosamente. Eu, tal como Cristo, ofereço a outra face, e deixo passar os comentários infelizes que esbarram na couraça da minha indiferença.
Houvera mais homens como eu e o país não teria caído no atoleiro em que e encontra. Abomino o despesismo estéril, tantas vezes para dar uma mão a um amigalhaço, um patrocinador de qualquer coisa, e não para satisfazer carências reais. Abomino os clientelismos, as sinecuras, os fretes... eu sou integro e impoluto. Sou magnânimo e conciliador.
A escrita moraliza os costumes, torna as pessoas mais dóceis, mais tolerantes, mais propensas à cidadania. Eu tive a sorte de colher bons frutos, por isso semeei valores, derramei eloquência, espalhei exemplos a seguir.
Sei que não sou santo, cometi alguns pecados, mas são apenas veniais. E ja me confessei.
Agora, aqui, perante este vasto auditório, quero dizer que levo no coração a mensagem deste «Correntes d'Escritas»: respeito pelo adversário é respeito por si próprio!

3 comentários:

Graça Sampaio disse...

Ai Cavaco, Cavaco! Falas bem mas não me alegras!

Pena disse...

Eloquente e Extraordinário Amigo de Excelência:
"...Mas eu aprendi muito com os escritores. Eu sorrio aos dislates estultos de alguns quando me atacam verrinosamente. Eu, tal como Cristo, ofereço a outra face, e deixo passar os comentários infelizes que esbarram na couraça da minha indiferença...."

O "seu" Dr. Macedo Vieira é sublime. De uma beleza na escrita e oralidade perfeita e espectacular.
Olhe, sem palavras...
Abraço amigo pelo seu preciosismo e amizade que me honra.
Com admiração constante pelo que concebe de magia pura.

pena

Para quê dizer mais alguma coisa, sensível Amigo Enorme?
Está tudo aqui.
Fantástico. Adorei.
Parabéns Dr. Macedo Vieira. Maravilhou-me, acredite?

Manuel CD Figueiredo disse...

Monumental!
Por vezes, a ficção é de tal modo descrita que não se afasta, e quase se confunde, com a realidade.
Cumprimentos.
Manuel Figueiredo