Quando eunucos e vampiros andam outra vez por aí, quando a poesia se reduz à vacuidade e à subserviência, o neoliberalismo prospera. Há um cordão umbilical entre a poesia e o sentimento popular quando ela fala ao coração da gente, sente o que a população sente, vibra com o que faz preocupar ou exaltar o povo.
Zeca Afonso falava para animar a malta. Eunucos premiados pelo poder financeiro, de braço dado por aí, num reumatismo cultural que tem muito significado: o sistema precisa de uma cultura servil, prestável, sem sal nem fel, enfim... sem alma!
Em homenagem ao baladeiro imortal, que se hoje fosse vivo continuaria a ser marginalizado e ostracizado como o foi (antes do 25 de Abril, sobretudo...) por dizer verdades que era preciso dizer...
Hoje, os vampiros dão cabo da economia, atrelam a justiça para não sofrerem retaliações e patrocinam a cultura oca, gongórica, insípida... mas que não hostiliza o sistema, para se arvorarem em mecenas... Enfim clones de Al Capone andam por aí... nas câmaras municipais, nos governos, nalgumas fundações...
Portugal esvaziado
de alegria e dignidade
da alma foi expurgado
recorre à mendicidade.
P'lo mundo, chapéu na mão,
mão estendida a pedinchar
milhão atrás de milhão
p'ra vampiros engordar.
Levanta-te Zeca e canta
uma balada sem medo
Portugal não se levanta
morrendo... diz-se... em segredo...
Esta poesia vendeu-se
não hostiliza o poder;
prostituiu-se, perdeu-se,
só botas sabe lamber...
Engraxar o mecenato
à cata do prémio fútil
ao poder faz vénia, ornato,
gongórica, oca e fútil...
Esta poesia de agora
tão abstrata e tão senil
Zeca, é p'ra deitar fora
não chega aos pés da de Abril!
Banca, casinos-vampiros,
com eunucos mão na mão,
gente vil, ocos suspiros,
reumático em profusão!
Faz falta animar a malta
cada vez é mais premente
a corrupção está em alta
Portugal anda doente.
Há que erradicar o mal
do regime democrático
vampiros no pedestal
formam bando cleptocrático...
Há poetas lambebotas
esta gentalha engraxando
autênticas anedotas
ao poder vil ajoelhando...
Poetas sem sal, sem fel,
da corte bobos servis,
recebem em troca o anel
o anel de ouro e rubis...
Nota: se falo em «corte» refiro-me ao termo em sentido amplo. Pode ser uma autarquia, um clube, uma capela qualquer...o que mais há são capelinhas a servir de corte... e cotesãos bajulando os dadores de prémios é um fartote...
Há poesia que é como a droga:ver aqui os seus efeitos...
2 comentários:
Grandes verdades você aqui
escreveu.
Anda tudo vendido ao neoliberalismo.
Até alguns (que se dizem poetas)!
Um forte abraço
Meu caro vieira Calado,
Há poetas do vácuo, do fogo-fátuo, diletantes e ávidos de reconhecimento, venha ele de onde vier... há quem ande à cata de palmas como alguns à cata de dinheiro...
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