quarta-feira, setembro 08, 2010

A gripe e... a guerra colonial... Segundo Lobo Antunes






















Lobo Antunes e eu, duas visões da guerra colonial... qual a mais justa? Nem eu sei...


António Lobo Antunes é um grande escritor. Um bom poeta. Às vezes um pouco excessivo. Hiperbólico, talvez.
O seu poema «a gripe e os homens» é uma excelente autocrítica. Todos nós, por vezes, em algum momento, já dramatizámos assim. Vale a pena ler o poema : aqui...
Contudo, o seu recente comentário sobre a guerra colonial, dizendo que matávamos indiscriminadamente crianças e velhos só para alcançar posições mais tranquilas no teatro das operações, parece-me um excesso. Deve estar arrependido desse comentário, uma boutade sem fundamento...
Estive lá, em Angola. Fui protagonista até de um acto precisamente contrário ao que ele descreve.
Comandava as operações (salvo erro em Zala...) o capitão Geraldo Estevens, um algarvio bem formado e um homem culto. Hoje, julgo que general na reserva.
Depois de bombardeado um acampamento (o IN deu em debandada deixando animais, diverso material e... uma mulher grávida em estado de parto iminente).
O parto afigurava-se problemático e por ordem de Geraldo Estevens foi transportada a parturiente para a unidade do exército, de héli, tendo daí sido transportada para Luanda, num Dornier.
Jamais poderei esquecer este gesto. O mérito vai inteirinho para quem comandava as operações: Geraldo Estevens. Humanismo e sentido cívico na mais pura expressão da palavra.
Contudo outros não pensavam assim. E até houve quem gozasse com esta atitude humanitária...

4 comentários:

Fátima disse...

Obrigada pela visita, que bem me engrandece.
Sempre bem-vindo na Maraláxia.
Com carinho e respeito
Rosa de Fátima

Luciana disse...

Oi
Obrigada pela visita.
Bjs e bom feriado

a d´almeida nunes disse...

É isso, caro "rouxinol de bernardim".

É muito problemático quando nos pomos a formular juízos de valor, sentenciosamente, em situações que foram vividas por muitos de nós, nos diversos teatros de guerra em África.
Também por lá andei, 69/71.
Dois casos:
1- Perto de Lourenço Marques. Uma mulher grávida, em trabalhos de parto, à beira dum fim dramático, ordem para não fazer nada, havia que prosseguir. Fiquei chocadíssimo, ainda hoje me lembro com frequência dessa cena macabra.
2- Nampula. Assaltaram o cofre da Unidade. Batida nos arredores, de jipe e armados. Entrava-se nas palhotas por arrombamento. Era tudo à bruta. Tive que impor a autoridade do meu posto militar, ainda que miliciano.
Acabou-se a cowboyada.
Afinal quem tinha assaltado o cofre foi um tipo cá das berças, que estava preso na cadeia da unidade, por indisciplina enquanto soldado no mato. Tinha-se pirado e nem se tinha dado por nada!...

Quantos casos, os mais díspares, não aconteceram durante a nossa acção militar em África dos anos 60 aos 70?
Para quê? Porquê?

Táxi Pluvioso disse...

Guerra é pra matar, violar, saquear. A guerra, como coisa nobre, como pintam os garbosos militares, para não se confundirem com assassinos, é pequena peneira.

Eu nunca compreendi o conceito de crime de guerra. Há regras? não se pode matar da cintura para baixo? aos Domingos?