terça-feira, setembro 25, 2007

Angela Merkel: a dignidade e o aprumo.


Angela Merkel deu uma lição! Em Portugal a fobia chinesa imperou e o líder do governo (e da Europa, no momento actual) receou receber o Dalai Lama. Ela, sem medos, sem constrangimentos, deu uma bofetada de luva branca a alguns homens. Recebeu o Dalai Lama.
Quando hoje em dia se fala sobre Direitos Humanos vem à memória a forma como se instalou o nazismo, na Alemanha de Hitler. Várias personalidades confessaram a sua lealdade e simpatia ao regime totalitário (ainda agora um guarda-costas de Hitler, de nome Mish, acaba de escrever um livro mostrando com naturalidade a admiração que nutria pelo regime) e deixam vislumbrar, pela sua postura desassombrada, que aquele populismo era atractivo e sedutor.
Paralelamente a um entusiasmo irracional, havia também um sentimento de alheamento no pensar, de embotamento moral e cívico; foi esse caldo de cultura que gerou o nacional-socialismo com todo o cortejo de malfeitorias que culminaram num belicismo patológico, exacerbado pelo culto da raça (ariana); os totalitarismos nascem quase sempre com forte adesão popular, uma adesão acéfala e baseada em factores galvanizantes, aparentemente insusceptíveis de reparo. Os descamisados de Péron são um exemplo típico destes paradoxos. Os desprotegidos da sorte foram bandeira que catapultou o Peronismo ao poder, mas depois, ele extravazou e passou a defender a clique oligárquica que se colou a ele. Adeus democracia.
O pior é quando a par desse exacerbado culto de personalidade ao chefe (caudilho, detentor de todas as virtudes), surgem sinais de corrupção na justiça, na administração pública, até no ensino... é o princípio do fim; a pretexto da defesa do pensamento do chefe, tudo se permite, tudo se derruba para ele passar na passadeira vermelha (a cor do sangue derramado...), nada se discute com medo de ser desleal ao líder carismático. E quem diz o chefe, pode dizer o clube de futebol da terra, que normalmente funciona como capa protectora para todos os excessos, como porta de entrada para todos os arbítrios, como salvo-conduto para o enriquecimento de alguns que estão no topo da estratégia e gerem a seu bel-prazer o cambalacho instalado!
Na cena internacional vemos a China a querer assumir-se como dono de consciências, sugerindo que não se receba o Dalai Lama (este nem sequer pretende a independência do Tibete, apenas um mínimo de respeito pela identidade cultural de um povo que está a ser vilipendiado por um regime colonizador) sob pena de retaliações de ordem material (económico-financeira).
Angela Merkel não cedeu às pressões. Não vendeu a sua consciência, não colocou o prato de lentilhas chinês acima da sua dignidade. Será que irá sofrer alguma reprimenda?
Que este pequeno exemplo sirva para abrir os olhos a este nosso povo que se deixa narcotizar com facilidade por caudilhos de pacotilha que usando habilmente a bandeira do futebol ou certos discursos eivados de frenesim pseudopopular nos querem impor uma mordaça ou um modo de pensar ou sentir uniformes. Claudicar em termos de princípios é abrir as portas ao totalitarismo, é a antecâmara da anti-democracia.
Esta mulher de coragem que sirva de exemplo. O gigante chinês precisa de lições, precisa de ser ensinado a respeitar as liberdades, precisa de saber o que é uma convivência democrática autêntica. Quem claudicar nessa tarefa, quem vergar, estará a alimentar o monstro em ascensão, pactuará com um potencial imperialismo in ovo...

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