Especialista em gastronomia, ataca agora essa "doença terrível" a "fome de justiça social"...
VARIAÇÕES SOBRE O TEMA: INVEJA...
Tinha-o na conta de homem probo e corajoso. Tinha-o em alta estima pessoal pois me parecia focar aspectos que sempre me apaixonaram: defesa dos judeus perante o massacre nazi, defesa dos humilhados e oprimidos, defesa dos perseguidos pelo poder político e/ou económico. Enfim: era para mim quase um "guru".
Agora, ao ler uma coluna de opinião de um conhecido diário, fiquei perplexo!!!
No dia 30 de Junho sob a epígrafe "Uma desconhecida fome de justiça", ele insurge-se contra os políticos e jornalistas que se debruçam sobre o tema da justiça, de uma forma um pouco leviana.
Sei que por vezes há excessos mediáticos. Sei que por vezes se empolam temas para dar ênfase a coisas que não mereceriam tal ênfase. Critérios. Subjectividades. Eu próprio já apontei alguns excessos mediáticos que me chocaram de forma especial.
Nas vésperas das eleições locais (as últimas) um conhecido jornal publicou quase meia primeira página (a um domingo) de um comício em que interveio Ferreira Torres, candidato à câmara de Amarante. No interior, quase uma página inteira! Chamei a atenção do provedor do leitor para a questão da igualdade de oportunidades! Se em democracia todos devem ser tratados igualmente face à lei eu interrogava-me como é que em Amarante seria possível dar tratamento igual! E no resto do país se todos tivessem o tratamento VIP de Ferreira Torres não chegariam páginas do jornal para tanto.
Excessos há-os em tudo. Até na maratona gastronómica que o ilustre articulista-escritor vem fazendo na imprensa para gáudio daqueles que não podem frequentar restaurantes caros e saborear os néctares que ele vai divulgando com a mestria a que nos habituou. Eu próprio estou incluído no rol dos que não têm poder económico para isso. Daí o agradecimento em nome da "classe"...
Agora, ao falar de "fome de justiça", ele esquece que há nalguns casos em que chegam às instâncias judiciais apenas a parte visível do icebergue. São pequenos indícios que deixam vislumbrar muita coisa. Imagine FJV que era árbitro de futebol. Era surpreendido por uma escuta em que alguém (muito poderoso) lhe dizia: "Lembras-te Zé, do que se passou no verão passado? Então vê lá!... porta-te bem, senão..."
O que ficariam a pensar de si "árbitro FJV"? O que ficariam a pensar do que lhe fez o telefonema? Qualquer cidadão diria com os seus botões: "Aqui está o retrato robot de um corrupto e de um corruptor!"
É naturalíssimo este raciocínio. Importará, como é óbvio, aprofundar estas pontas soltas e confirmar (ou infirmar) tal hipótese.
Foi o que fez o Senhor Procurador de Gondomar, é o que faz a Procuradora-Geral-Adjunta encarregada do processo "Apito Dourado". Fazem apenas o seu dever. Fazem o que se espera que façam. Não andam a perseguir ninguém, não andam norteados por qualquer sentimento de "inveja" (como insinua o articulista). Procurar a justiça é dever de todo o cidadão bem formado, seja político, seja jornalista. Quem procura tapar o sol com a peneira anda obnubilado por sentimentos pouco nobres(clubite?amiguite? ).
Marx, esse filósofo que estudou e elaborou uma estratégia social destinada a minorar as discrepâncias na distribuição da riqueza, seria, um "invejoso"? Seria um cultor da "inveja" dos pobres contra os ricos? Aqueles que criticam os chorudos lucros da banca, em contraste com o pauperismo da população, e o estrangulamento das pequenas e médias empresas, são "invejosos"?
Os que criticam os regimes fascistas e nazis pela sua obsessão pela grandeza, serão "invejosos"?
Os que criticam a injustiça social que gera cada vez mais pobres para criar meia dúzia de ricaços que vivem na ostentação permanente, pouco contribuindo para o progresso colectivo, são "invejosos"? Não será a injustiça social fruto de pequenas injustiças que medram no dia a dia, nas empresas, no desporto, na sociedade em geral?
O processo "Apito Dourado" é apenas a parte visível do icebergue. A teia envolve autarquias, com as facilidades concedidas a certos "Midas" que funcionam como "padrinhos" e são capazes de criar distorções várias com o seu poder económico e a sua actuação "incentivadora" a vários níveis, incluindo o político.
Julgo que nós, os cristãos, estamos um pouco mais dentro da verdade do que os judeus, sobre esta matéria, pois Cristo sempre exaltou os que "têm sede de justiça".
Essa "sede de Justiça" é que fez desencadear o "25 de Abril", foi essa "sede de Justiça" que fez criar leis correctoras de injustiças várias, a nível de saúde, de escolaridade, a nível da trabalho.
Mas o trabalho é árduo e nunca estará concluído. Como diria o conhecido bispo D. Manuel Martins, "enquanto houver uma pessoa com fome, a minha missão não estará cumprida"!
Caro FJV, deixe um pouco a gastronomia e dedique-se à causa do pauperismo e da justiça social.
No desporto, há que combater as injustiças, quer elas estejam a norte quer estejam a sul. Há que extirpar esse polvo ignominioso que abastarda o relacionamentio democrático, há que erradicar as bolsas de corrupção que são como metástases degenerando até limites quase letais neste corpo colectivo que dá pelo nome de Portugal.
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