Um blogue plurifacetado procurando abordar questões de interesse sob perspectivas diversificadas. A independência sim, mas sempre subordinada a parâmetros de bom senso, de optimismo e de realismo. O mundo e a sociedade sob o olhar atento e desassombrado de um cineasta do quotidiano, um iconoclasta moderno, sem peias, sem tabus, sem preconceitos.
sábado, outubro 20, 2012
A Junta de Salvação Nacional
Estamos em 2020. Portugal recupera da revolução. A paz social e a justiça são pilares que suportam o edifício democrático.
Passaram-se já alguns anos sobre o mítico 1º de Maio de 2015. Mas vale a pena recordar os acontecimentos que precederam a revolução .
Estamos em 2020 e o país respira um ar mais limpo, mais regenerado, mais salubre. Estão presos os principais protagonistas da nossa derrocada. E tudo começou com um livro polémico escrito por Paulo Morais.
O título era elucidativo: «PORTUGAL, ASSIM, NÃO TEM FUTURO».
O país, de norte a sul devorou-o num ápice. Nesse livro ele resumia as crónicas dispersas que ia fazendo aqui e ali. Ia pondo o dedo em várias feridas. Ia denunciando as corrupções flagrantes visíveis a olho nu, mas que os responsáveis da justiça chamavam apenas vícios processuais e pequenas ilicitudes. Só que, por trás dessas ilicitudes, havia quem vivesse à tripa forra. E Paulo Morais punha os nomes aos bois: fulano de tal que saíu do ministérios das obras públicas e depois foi para aquela grande empresa onde se deu o que se deu... beltrano, que estava no governo e que beneficiou descaradamente aquele banco, foi para lá depois de deixar o cargo e passou-se o que se passou, aqueloutro que deu milhoes para uma campanha eleitoral e que viria a protagonizar o maior escândalo bancário dos últimos tempos...etc, etc.
Era um descasca pessegueiro pegado, onde ele mencionava, tintin-por-tintim, as causas próximas e remotas do estado a que chegamos. Foi o fim da picada!
O livro foi mandado investigar pelo ministério público e como havia termos «excessivos», no dizer dos magistrados, foi intentada uma ação judicial contra o professor Paulo Morais.
O povo não gostou; os militares berraram : «alto e pára o baile!»
No dia 1º de Maio de 2015 a Revolução surgiu nas ruas com todo o impato: os trabalhadores armados aliaram-se aos trabalhadores com a arma da razão e rapidamente tomaram conta dos principais órgãos de comunicação social, primeiro, as televisões públicas e privadas, e depois todas as unidades militares ou militarizadas foram sendo controladas sem dificuldades pois o ambiente era de tal ordem que só se ouvia dizer: «bem vinda a revolução, pena foi ter vindo tarde demais!»
Até o cardeal patriarca, contrariando posições assumidas tempos antes, foi perentório: «as manifestações purificadoras e regeneradoras são sempre úteis e louváveis! Cristo foi o maior revolucionário da História! que viva a revolução!»
Enfim, das mais recônditas aldeias o júbilo eclodiu como se fora um vulcão adormecido, soltando lava incandescente. Receoso de se queimar, o presidente da República fugiu de helicóptero para Espanha onde foi acolhido pelo rei. Os responsáveis da justiça foram detidos e postos em segurança, a fim de se evitar o seu linchamento. A fome alastrara qual vírus pandémico e a onda de pobreza foi como que um tsunami a desencadear a revolta popular.
Foi criada uma Junta de Salvação Nacional composta por dois oficias, dois sargentos e dois praças que já tinham dado provas de competência nas reivindicações e na organização do golpe. Os líderes sindicais, da CGTP e da UGT foram convidados para formarem um governo provisório capaz de gerir o país nas circunstâncias delicadas que se seguiriam ao desencadear do golpe.
Gritava-se pelo fim do euro e pelo regresso ao escudo. Contudo, a união europeia, num gesto de elevação e dignidade, admitiu também ter culpas graves neste processo e fez questão de se aliar ao acto de cidadania, e foi generosa, apoiando sem reservas os revoltosos, dada a quase unanimidade da adesão popular.
Enfim, Portugal reergueu-se a partir daí. A dívida foi renegociada, os juros passaram a ser mais acessíveis, o Banco Central Europeu passou a emprestar diretamente dinheiro aos estados membros, deixando a banca de ser o intermediário especulador e parasita.
Enfim, a chamada revolução dos piegas, como foi chamada__ pois os governantes humilhavam o povo com impostos e mais impostos, tornando o seu viver insuportável, e ainda por cima o acoimavam de «piegas»...__ regenerou o país e levantou do chão todo um povo escarnecido por governantes incompetentes, mentirosos, que protegiam os grandes magnatas e sugavam o povo até aos limites da tolerância...
Agora, neste ano de 2020, as novas gerações podem ufanar-se de ter um país mais coeso, mais equilibrado, onde foram banidos os que enriqueceram fabulosamente à custa do erário público e viviam na opulência à custa da miséria popular. As desigualdades gritantes desapareceram.
Digno e meritório, definindo bem o carisma e a integridade moral do professor Paulo Morais que recusou os cargos mais importantes , sendo apenas professor universitário e comentando na TV a situação do país onde a corrupção não foi ainda totalmente erradicada mas já está sob controlo, sobretudo graças à acção do professor Medina Carreira, Provedor do Povo.
Nota final: Isto é ficção.
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