Espírito gentil, vem
Na voz do sino que chora...,
Que chora a minha saudade
Que nada afoga!
Vem, no suspiro da aragem
Que entre as folhagens suspira,
Suspira... os ecos remotos
De que suspiros?
Espírito gentil, vem
Naquela entrelinha, ao longe,
Que ante a minha mesa se ergue
Todas as noites!
Vem, no perfume que sobe
Dos lírios que à tarde, roxos,
Sonham, de roxo vestidos,
Quais dos meus sonhos?
Espírito gentil, vem
No rastro do luar nas águas
Que é como um sorrir... duns olhos
Turvos de lágrimas!
Vem, nos ritmos não dos versos
Feitos, mas sim nos daqueles
Que nunca acharam palavras
Que os escrevessem!
Espírito gentil, vem,
Vem!, não posso mais..., vem! dá-me
O dom que era nosso, _ vida
Do meu cadáver!
José Régio
A minha homenagem a um grande escritor que viveu em tempo de censura e que, nas entrelinhas, sabia ir ao fundo das questões; a ele, à sua mensagem, ao seu pensamento não acorrentado a dogmas nem a hipocrisias farisaicas, a minha humilde e solidária saudade.
Rouxinol de Bernardim
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