João Marcelino, Jornalista
25.04.2018
Conheço 'jornalistas' que nunca assinaram uma notícia. Nunca ousaram
fazer ou promover uma investigação séria sobre que assunto fosse. Nunca
arriscaram uma incomodidade. Confesso que não tenho qualquer respeito
profissional por eles, mesmo que alguns escrevam em português escorreito
A semana passada
abordei aqui uma reportagem da SIC referente ao caso-José Sócrates. Escrevi a
meio, porque a reportagem prosseguiu no dia seguinte e eu não sabia. No final,
devo admitir que errei na apreciação então formulada. Somando tudo, o trabalho
estava completo e era profissional, competente. O que no primeiro dia me
pareceu uma defesa do arguido, pelo acento tónico colocado na sua indignação
face ao interrogatório, constitui-se num trabalho de investigação substantivo e
equilibrado. Dignificou o jornalismo, além de desencadear a polémica sobre a
utilização das imagens dos interrogatórios que a mim ainda hoje me parecem
dispensáveis. Mas compreendo os argumentos e estarei nessa luta ao lado dos
meus camaradas de profissão que entenderam o contrário na sua missão de
informarem, correndo riscos pessoais e fazendo-os correr às suas empresas,
tanto na SIC como na CMTV. Sei, por experiência própria, o que custa estar do
lado da notícia contra o sistema politicamente correto que, na prática, protege
os criminosos.
Volto, então, aos tais ‘jornalistas’ de que falava.
Vejo-os como cronistas, repórteres de coisas fúteis,
pesquisadores de ‘fait-divers’ no Google, militantes de causas fracturantes,
entrevistadores de amigos, comentadores de assuntos triviais. Alguns deles, bem
conhecidos, fazem, até, carreiras sólidas perante os basbaques do sistema. Mas
não são jornalistas, e sabem-no.
O caso-José Sócrates, paradigma maior do combate à corrupção
em Portugal, é excelente para entendermos a fronteira entre ser jornalista e
ser ‘aquilo’.
Os jornalistas arriscaram investigações no terreno, tentaram
saber quais eram as acusações, incomodaram os protagonistas, não se acomodaram
ao tempo da Justiça (que para tanto cobarde e incompetente é desculpa
conveniente) e foram à procura de notícias para os leitores, mesmo que em
algumas vezes tenha ficado claro que estavam a ir a reboque das fontes, como em
certos momentos do ‘CM’. Mas concedo que, num processo destes, por motivos
óbvios, seria difícil evitar erros.
Os ‘outros’ ficaram, como de costume, sentados nas cadeiras.
Paralisados pelo medo, pelas ligações que cultivam, pelas
obediências, tornaram-se ventríloquos dos donos. Para eles, que são capazes de
escrever lindos artigos sobre o que se passa lá longe, tudo o que se passa ao
perto é um sofrimento. (...)
In DN
Enfim, quem diz jornalistas diz escritores. Quem dá prémios aos escritores?! Gente mandatada por DDT (Donos Disto Tudo...) que actua em convergência e, quiçá, subordinação a estes.
Ora , os escritores temem falar em pessoas, em corrupções, em esbulhos do erário público. Falam de coisas balofas, mais do passado que do presente, não querem pôr as mãos no fogo com medo. Muito medo de não serem premiados. Alguns intitulam-se "espertos" por isso. Cultivam as banalidades num estilo rococó, abordam as questões pela rama, para não ferir susceptibilidades. Enfim, gente de caca, que não ousa dizer «o rei vai nu!»
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