segunda-feira, maio 07, 2018

Meu caro Presidente:

Meu caro Professor:

Sou do tempo em que Artur Portela o tratava, na revista Opção,  de forma brejeira,  por Marcial Ribeiro Souzela, e o senhor  sorria e nunca lhe moveu nenhum processo por atentado à honra e bom nome como alguns provincianos caciques locais fazem amiúde. É um democrata.
Perdoe-me, pois o tratamento por "meu caro".

O assunto é grave e merece reflexão de todos. Estamos no mesmo barco, um co-manda e os outros são co-mandados. Quem co-manda deve ouvir as vozes da tripulação. É dentro desse espírito que me dirijo a si. Bases e cúpulas devem estar em permanente interação  dialética.

Falou na necessidade de transparência, no dever de escrutinio implacável dos órgãos de poder, fala também na disciplina, na coesão social, no respeito pelos valores da cidadania.
Conhece os conceitos de "racionalidade económica empresarial" e "custo de oportunidade"?
Pois é com base neles que lhe peço para olhar com atenção para o chamado "perdão de dívida" ao Sporting Club de Portugal,   que está a escandalizar o país inteiro.
A banca é um ninho de viboras, um bando de abutres, uma corja de  predadores , em termos de algumas administrações. Os trabalhadores sofrem o chamado efeito de bomerangue: pagam as favas dessa gestão criminosa.
Em última instância são outros bancos (alguns sem culpa direta na gestão ruinosa de outros) a sofrer as consequências e a mandar para o desemprego as vítimas inocentes: os trabalhadores.
O Fundo de Resolução não é um poço sem fundo, tem limites. Há que estar muito atento a sinais preocupantes, pois os precedentes criados são medonhos: VER AQUI

Meu caro, em última instância é sobre si que recairá o odioso desta matéria, pois é o responsável pelo regular funcionamento das instituições. quando há rombos no barco nacional é o calafate mor, o comandante supremo que deverá arcar com a responsabilidade (direta ou indireta) dos colapsos na arte de navegar. Como piloto da nau lusa é a si que me dirijo, pois há que arrancar o mal pela raiz.
Como sabe,  o futebol é um pântano pestilento em termos de tráficos de influências, gestões danosas,  esbanjamentos e desperdícios sem fim à vista desarmada. O próprio conceito de fair play financeiro deve ser aprofundado e acabar  de vez com esta promiscuidade de tantos empréstimos de atletas dos "ricos" aos "pobres"; deve haver limites para estes excessos perniciosos que atentam contra a chamada verdade desportiva e cavam um fosso cada vez maior entre quem tem (mesmo à custa de favores bancários) e quem não tem.
Isto que os bancários legitimamente censuram é um crime de lesa economia, um crime de lesa-racionalidade económica,  e, pior do que tudo, um precedente gravíssimo que poderá abrir uma caixa de Pandora de efeitos imprevisíveis.
As leis não prevêem tudo, não abordam todos os casos concretos, como sabe, há lacunas e casos omissos que devem ser analisados com ponderação,  à luz da pedagogia e do bom senso.
O que se pretende fazer aqui, neste caso concreto, poderá ser usado para outras atividades, noutros segmentos da sociedade com malefícios óbvios para todos nós,  contribuintes, as vítimas colaterais em última instância.
Espero de si um alerta, um sinal, uma mensagem de ponderação e de respeito pelos valores da igualdade de oportunidades e de racionalidade económica, contribuindo, com essa reflexão, para um repensar deste autêntico "crime" com efeitos multiplicadores em vários domínios da sociedade.
Quando a saúde e a educação, por exemplo, estão a ser  castigadas para se  alcançarem  os objetivos orçamentais necessários para responder ao desafio europeu (e melhorar as notações das agências de rating...) com sacrifícios desumanos para doentes, alunos, professores e todo o universo  humano associado a estes setores,  este escândalo de  dimensões descomunais é algo de preocupante. É mesmo uma aberração degradante. uma orgia financeira descomunal!

O Fundo de Resolução está a ser alvo de contribuições de muitos inocentes que não podem ver com bons olhos este "bodo" escandaloso. Quem tem vícios que os pague do seu próprio bolso e não recorra a expedientes  que nada abonam a favor de uma sociedade que se quer justa, solidária sim, mas  que não premeie o esbanjamento e a incúria.

Não será uma grosseira forma de concorrência desleal? O F. C. do Porto já disse que sim! VER AQUI

O país inteiro está com os bancários pois sabe que são as próximas vítimas do monstro despesista que alastra, qual tsunami,  nesta sociedade injusta e cada vez mais afastada da democracia e do bem comum.

José Leite de Sá

(militante da democracia)

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