terça-feira, outubro 22, 2019

Carta aberta à Sociedade de consumo!





Caríssima S.C.:

Desculpa tratar-te assim mas não mereces mais. Tu és a causa de tantos malefícios na nossa sociedade que nem imaginas. Tu obrigas-nos à escravidão! sim, somos, por tua exclusiva causa,  escravos das tradições.
Temos as festas religiosas que nos sugam até ao tutano com aqueles folclores dos Senhores multiusos (o dos Passos, o do Bom Conselho,  o do Bonfim, o dos Aflitos, o dos Bem-guiados, o dos Mal-guiados, o dos Bons Caminhos... sei lá a quantidade e a diversidade ,  que, se perguntassem ao próprio  Senhor de Nazaré ele diria que tudo era fruto de um catolicismo mercantilista que tudo faz para arrecadar ouro aos crentes ). Das Senhoras,  idem aspas. Dos Santos populares também o discurso é similar. Quem não der ou não compactuar com esta parafernália a roçar a insanidade,  fica mal visto, é considerado avarento e persona non grata.
Depois segue-se  aquela abusiva forma de considerar família,  o clube, o grupo do café, os amigos do liceu,  os colegas de curso,  enfim, toda uma diversidade e pluralidade que cheira a esturro. Por vezes diria que se transformou numa praga, sobretudo para quem não navega no mar da prosperidade, como eu.
E surgem as festas para tudo: casamentos, batizados, divórcios, aniversários. Os dias especiais: do vizinho, do amigo, do cidadão, do animal de estimação, do tio, do sobrinho, dos filhos, dos netos, dos pais, enfim, tudo criado por ti, S.C. para depenar os incautos.

Tu tens imaginação para tudo desde que se trate de esvaziar as algibeiras das pobres criaturas de Cristo. Sinto.me  como um pneu: quanto mais alta rotação nestas dádivas, mais liso fico!

Olha, vou cortar relações contigo. Vou deixar de ser teu escravo. Não tenho dinheiro não quero ter vícios.

Os amigos do liceu que se lixem! então,  o jantar natalício só custará  dez euros, mas tu,  tenebrosa e maquiavélica,  introduziste uma pequena nuance: este ano uma prendinha para cada um,  só no valor de cinco euros!
Já  viste  por  quanto ficará na totalidade (não vou dar a uns e esquecer os restantes...) se forem cinquenta ou setenta almas ao tal jantar?!!! 

E a verdadeira família como será contemplada?! 

Devias criar um novo Senhor: o Senhor da Elasticidade Financeira!!! eu seria  o devoto número um! 
Assim, não tendo recursos para ser devoto de tantos Senhores, Senhoras, Santos e Santas, sinto-me deprimido, em baixo astral, por favor não me obrigueis, para satisfazer esta diversidade santíssima,  a fazer como alguns políticos: roubar o Estado e criar testas-de-ferro para poder  ser dignificado  e idolatrado  nesta sociedade que exige uma multiplicidade de recursos e nos leva à exaustão! Deo Gratias!

VER AQUI O MAIS OUSADO e MAIS IMAGINATIVO 

Este sofre do síndrome da aparência!!!

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