terça-feira, julho 30, 2019

Anti-sectarismo

Quando vemos um pouco por todo o lado um sectarismo doentio, na comunicação social, nas redes sociais, nas conversas de café, algumas roçando a demencial clubite aguda, faz falta uma análise serena e  fora dos parâmetros habituais. Hoje em dia faz falta  clarificar e desmistificar com sensatez, com lucidez e sem  o manto sectário a intoxicar tudo e todos. Ei-la:

Nas próximas eleições legislativas o provável vencedor será o socialista António Costa.  Teve boa conjuntura externa, beneficiou dos planos do BCE que contribuiram para colocar a taxa média de endividamento para valores  muito bons. A dívida externa cresceu mas há que ter em conta o facto de existir uma almofada financeira muito boa para usar em caso de flutuação anormal de mercados financeiros. Essas perturbações ocorrem por vezes e é bom estar preparado. Conseguiu baixar a taxa de desemprego para mínimos históricos bem como o défice (graças também  às cativações forçadas nos serviços públicos gerando alguns constrangimentos).
António Costa teve  alguma  culpa no descontrolo dos fogos florestais, contudo, há que reconhecer as condições meteorológicas muito adversas e  um laxismo  existente há muitos anos no dominio da prevenção. A repartição de culpas é lógica, atendendo ao  conjunto de circunstâncias  que se verificaram: falhas na prevenção, na detecção atempada dos focos de ignição, na estratégia de combate e até na utilização de meios diversos.
É de prever que estando o PSD fragilizado (saídas de militantes para o "Aliança" e " Basta"!) o resultado eleitoral possa ser muito bom, talvez possa atingir a maioria absoluta . Contudo, há que ter em conta um eventual surto grevista ou a mão criminosa (e/ou o dedo político) no incremento de fogos florestais ao aproximar do acto eleitoral. A chamada política de terra queimada existe e nunca será mau relembrar isso. 

O segundo partido mais votado deverá ser como é habitual o PSD. No entanto, as fracturas visíveis a olho nu, expostas na comunicação social e nas redes sociais com inusitado ênfase, podem causar danos mais clamorosos do que seria normal. A polémica da escolha de nomes para certas listas (Braga e Guarda, são paradigmáticos) poderá criar um efeito de dominó afectando todos os círculos. Em Lisboa e no Porto, sobretudo, os danos serão mais acentuados. No horizonte já se perfilam líderes para emergir no "day after"...Após a previsível hecatombe tudo poderá acontecer...

O terceiro classificado nesta hierarquia deverá ser, com fortes probabilidades o Bloco de Esquerda. A sua coordenadora, Catarina Martins, tem aliado uma rara habilidade táctica a um feroz espírito reivindicativo que esbarra com o sentido de Estado de António Costa. Contudo, a opinião pública tem dificuldades em discernir onde começa o populismo e acaba o afã reivindicativo, daí ser previsível que  o BE cresça nesta conjuntura. Começará a aproximar-se (sobretudo nas grandes metrópoles de Lisboa e Porto) do PSD.
A quarta força política deverá ser o PCP. Sempre reivindicando as reformas estruturais que se impõem e salários mais altos, tem pressionado o executivo e por vezes conseguido algo que não seria imaginável se o PS estivesse só na governação. Acresce o facto de o medo da maioria absoluta para o PS (lançando-o borda fora da chamada Geringonça)  será o "papão" a exibir até à exaustão aos seus militantes e simpatizantes. A distância para o CDS acentuar-se-á sem dúvidas.
A quinta força política e a grande derrotada será sem dúvidas o CDS, conduzido, ultimamente, de forma tão leviana e tão oportunística que cheira a populismo. Aquilo do combate à corrupção, nos moldes em que é proposto, é típico do eleitoralismo oportunista. Porque nunca propôs estas medidas? Será que espera alguma vez executá-las?
Aquela infeliz tirada (que será utilizada até à exaustão pelos opositores) de que a tourada é um bailado, vai ser mote glosado à farta. Vai fazer crescer o PAN, em detrimento do CDS.

À espera do "day after" terá alguns que, na sombra,  esperam o "quanto pior melhor", para saciarem as suas ânsias de protagonismo e sede de pedestal. Enfim, será o canto do cisne de Assunção Cristas, que foi uma frustração completa a todos os níveis: nunca soube escolher nomes, não promoveu renovação, não criou inovação nem fomentou práticas de saneamento moral e cívico. Um desastre completo que terá efeitos altamente danosos,  até porque os recém-criados partidos emergentes do PSD irão pescar sobretudo nas franjas mais xenófobas e racistas do CDS fragilizando ainda mais este já de si frágil partido. Chegaremos ao partido do "táxi" como foi rotulado noutros tempos... tudo indica que sim...
Os dados estão lançados...

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