sexta-feira, novembro 23, 2018

Exército europeu?!

  




A União Europeia pensa na criação de um exército europeu para evitar depender excessivamente dos States (reforçando o peso e capacidades de intervenção no âmbito da NATO). Enfim, há quem seja a favor e quem seja contra.  O que pensar desse exército?
Entronca esta pergunta no contexto mais vasto das correntes de opinião vigentes .
Será que a UE está a caminho do fim,  ou está num ciclo agregador e mobilizador?
Seria ingenuidade pensarmos que tudo são rosas. Os movimentos independentistas  mostram cada vez mais a sua face desagregadora. Criticam-se cada vez mais os gastos excessivos e o monstro burocrático criado. Fala-se nas "velocidades" e nas "vozes"...Há, sempre houve, os chamados "eurocéticos"...

Enfim, o Brexit  poderá definir um movimento futuro: se for um êxito para o Reino Unido, isso irá desencadear movimentos desagregadores e independentistas; se, pelo contrário, for um insucesso, dará azo a um cerrar fileiras e a uma maior coesão do baluarte europeu.
Contudo, tudo nasce, cresce, amadurece e morre. Ninguém tenha ilusões.

Recordo o ano de 1971.  Eu prestava  serviço militar em Angola.
Uma bela noite desloquei-me a casa do professor doutor Santos Junior (o criador da Reserva Ornitologica de Mindelo), que então leccionava em Luanda (Estudos Gerais, como então se designava). Morava na rua cidade de Lisboa, uma rua pouco movimentada.
Falou-se na evolução do Império Colonial Português e diferenças em relação aos Impérios Inglês e francês. Ele, excessivamente convicto da nossa superioridade em relação a inglesses e franceses no tocante a humanismo e capacidade de miscigenação, previa a manutenção do nosso Império por muitos anos. Dizia que nós não tínhamos "colónias", eram apenas "Províncias Ultramarinas" (como a ideologia oficial crismara o vasto território ultramarino. Que nós éramos mais inteligentes e mais humanos que franceses e ingleses,  sobretudo. Daí a nossa maior longevidade em terras de África.
Falei-lhe no Brasil e na rentabilidade que teve aquele território para nós, sobretudo depois de uma independência feliz. Eu achava que dentro de dez ou quinze anos tudo estaria já encerrado, graças a uma planificação  e a uma política de coexistência pacífica com os indígenas. Falei na política de abertura sobretudo no Leste de Aangola, onde Savimbi estava a ser colaborante e pensava num futuro promissor numa sociedade pluralista e em que houvesse igualdade de oportunidades para todos. 

O professor Santos Júnior exasperou-se com os meus comentários e com a minha visão histórica. Chamou "estúpida", com azedume e agressividade esta minha visão que ele definia como "capitulacionista"... Reconheço que não era só ele a chamar "estúpida" a esta visão planificada e ponderada...
Eu retruquei que a "Voz da História" era para ser ouvida com atenção e que  uma planificação séria e  bem ponderada deveria ser o caminho a seguir pois a Guiné iria ser o primeiro baluarte a cair (pela força) se não houvesse uma política de admissibilidade da independência (ainda que a longo ou médio prazo) das "Províncias".  Em Angola a guerra estava "ganha" concordei eu, muito embora pudesse suceder uma cadaverização do império se a Guiné caísse e a intervenção estrangeira mobilizasse mais recursos..

Passados três anos  o MFA, perante a incapacidade do regime em tomar uma posição séria e credível, fez eclodir a situação geopolítica e provocou danos colaterais incalculáveis, pois o cenário da descolonização foi terrível para ambas as partes. Se o "soneto" já era mau... a "emenda" foi pior...
A minha "sugestão estúpida", era a "sugestão" do general Norton de Matos e de mais alguns adeptos com visão histórica e não enfeudados ao radicalismo. Os radicais de então provocaram a reação dos militares. A marcha da História foi implacável e poucos a imaginaram assim...

Agora, na União Europeia , passa-se algo similar. Ou se avança sem medos,  sem tergiversações, para a união de facto (Exército, Banca, dentre outros segmentos) criando um cimento aglutinador, ou então, a destruição irá paulatinamente desencadear-se (estimulada quer por americanos, quer por russos, que não querem o crescimento harmónico da União) com os danos colaterais óbvios e imprevisíveis (alguns belicismos poderão surgir).

Está na hora de decisão. O fim pode estar mais próximo do que se imagina. Ou se vai, com determinação, coragem e convicção, para uma reforma tendente à desburocratização e criação de mecanismos aglutinadores e geradores de mais e melhor União, ou então, os ventos desagregadores pairarão sobre este espaço europeu com intensidade máxima.

A  situação  é clara e compete-nos decidir. Oxalá a União seja o denominador comum. Contudo, o mais elementar realismo, convida-nos a meditar no cenário oposto, também.

PARA MEMÓRIA FUTURA

Nenhum comentário: