domingo, novembro 29, 2020

Bocage e Cristina Ferreira


Não lamentes, ó Nize, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putissimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas teem reinado:

Dido foi puta, e puta d’um soldado;
Cleopatra por puta alcança a c’roa;
Tu, Lucrecia, com toda a tua proa,

O teu cono não passa por honrado:

Essa da Russia imperatriz famosa,
Que inda ha pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre mil porras expirou vaidosa:

Todas no mundo dão a sua greta:
Não fiques pois, ó Nize, duvidosa
Que isso de virgo e honra é tudo peta.

Bocage

 Enfim, Bocage exteriorizou de forma poética a brejeirice e ficou imortalizado. Na mesma senda populista e brejeira, Cristina Ferreira procura mexer com o "status quo" cinzentão e beato, com  uma perfomance literária digna de meditação.  


Miguel Esteves Cardoso com o seu «O amor é fodido» também quis manifestar a sua veia de escritor pimba procurando o sensacionalismo como forma de agitar as águas. E que dizer do João Malheiro, com a célebre «Cona dÁço», romance iconoclasta para uns, mas icónico para outros, também bebeu da mesma fonte populista, usou os mesmos ingredientes brejeiros para ser falado, louvado, nos sectores  académicos mais ousados...A sua popularidade, não só nos domínios  das discursatas futeboleiras, onde pontifica como um Ésquilo da Era moderna, nesta Idade da Bola, onde o vale tudo impera, está em alta e  tem status garantido. Se fosse candidato a Presidente da República teria mais votos quie Maria de Belémnão duvido. Idem aspas para Cristina Ferreira. ela é fodida em tudo o que se mete.

A tribo pimba é vasta e tem numerosos adeptos. A universidade irá dar o retoque final na promoção deste novo mundo,  esta casta de nefelibatas que pairam acima do pântano cinzentão da mediania, enfim, esta nova condição, onde a futilidade e a brejeirice passarão a ter lugar cativo no pódio das celebridades, começa a ganhar asas e a voar no universo mediático...  Saramago que se cuide pois irá, a este ritmo, caír no olvido...

Enfim, temos o «Quim Barreiros» que faz um sucesso tremendo com as suas brejeirices e ganha rios de dinheiro. Caiu definitivamente no goto das turbas ululantes.

Criticar esta Minerva  populista para quê? Ela sabe o povo que tem, os gostos de uma populaça que aprecia este clímax a roçar o anedótico, este povo brejeiro quer isto, e lá no seu íntimo, comenta:«A Cristina é fodida!» E ela sorri em êxtase, goza com os comentários mais fodidos e mais ordinários e atinge o clímax... financeiro...o que, nos tempos de crise, é um maná...

«Pra cima de Puta» não exalta o virgo, não. Mas exalta a impudícia, a nova forma de exibição de talentos como os hemisférios lácteos que se tornaram a vários níveis um moderno (e eficaz) ascensor social...

 

 

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